
A maturação do ser humano, cedo ou tarde, passa pela grande questão de pertencimento. Em algum momento de nossas vidas saber o nosso lugar no mundo, ainda que tardiamente, é uma das grandes composições pela busca de uma identidade própria. Ao ser questionado sobre como descobriu seu lugar na medicina, Rogério Araújo não pensa duas vezes, “desde que eu me entendo por gente eu gostava de medicina”.
E se ele já se enxergava doutor mesmo com poucos anos de vida, Rogério fazia da chácara de seu pai, o seu Hospital, “eu tinha muita curiosidade de ajudar nas cirurgias dos animais que existiam lá, gostava de analisar quando algum morria… era muito natural para mim”. Mas foi quando seu irmão mais velho partiu da cidade natal da família no Sul de Minas para Belo Horizonte a fim de cursar medicina, que ele teve os primeiros contatos práticos com a profissão. Aos 14 anos se mudou para a capital para estudar e nos anos seguintes dedicou seus estudos para a medicina. “Naquela época os aprovados no vestibular eram divulgados no rádio em ordem alfabética. Me lembro de estar sentado escutando o locutor falando os nomes de mais de 100 aprovados e quando ele chegou no R, ele anunciou um outro Rogério…”, conta bem humorado. Ele só conseguiu entrar no curso da UFMG no ano seguinte.
Com a mesma naturalidade que se descobriu na medicina, ele encontrou-se na oncologia. Seu primeiro contato com a especialidade aconteceu ao atender uma de suas primeiras pacientes no estágio: “Era uma senhora que tinha câncer no esôfago. Ela ficou muito tempo internada e quando foi fazer a cirurgia, faleceu”, lembra. Todo o cuidado com a paciente e com a doença chamou muito a atenção do jovem que confirmou sua vocação ao ingressar no seu próximo estágio, no Hospital Alberto Cavalcanti, em BH. “Conheci um oncologista que me fez encantar com a relação que ele tinha com seus pacientes”.
Seu caminho estava começando a cruzar com o Triângulo Mineiro quando resolveu fazer a residência em Oncologia Clínica na Santa Casa, lugar que tinha um uberlandense como chefe do setor. “Quando eu me formei, ele chegou em mim e falou ‘vou te levar para o melhor lugar do mundo’”, conta rindo. E assim foi feito, chegou em Uberlândia em 1987 para trabalhar no recém-inaugurado setor de oncologia do Hospital de Clínicas da UFU. “Naquele momento, a oncologia deveria ter em média uns 300 internados e não tinha leito próprio. Então eu assumi toda a demanda de quimioterapia do setor e comecei esse trabalho de organizar espaços para internar os pacientes”.
A demanda foi tão grande que o Dr. Rogério e outras duas oncologistas clínicas começaram a atender em uma casinha no bairro Umuarama. Quem conhece a história do Grupo Luta Pela Vida sabe o que vem em seguida… Esse atendimento começou a chamar atenção da sociedade e logo se formou a ONG composta por pessoas que tinham o objetivo de mudar a realidade oncológica na região.
“Naquela época, as pessoas se referiam ao câncer como aquela doença. O Grupo Luta Pela Vida teve um papel fundamental para desestigmatizar a doença na região”, afirma o oncologista. Dr. Rogério conta que existia muito trabalho e um retorno financeiro abaixo do esperado nesse momento. Porém, no melhor estilo Deus ajuda quem cedo madruga, quando as obras do Hospital do Câncer ficaram prontas e o dinheiro para mobiliar o espaço acabou, o grupo foi surpreendido com um testamento de uma paciente que viera a falecer. “Com o dinheiro, nós mobiliamos todo o espaço e ainda sobrou". Assim foi inaugurado o primeiro pavimento do Hospital do Câncer em Uberlândia, há 21 anos atrás.
Naquele momento iniciava uma nova fase para o tratamento oncológico em Uberlândia e região. Dr. Rogério se tornou um dos cabeças do Hospital do Câncer e, como presidente do Grupo Luta Pela Vida, mobilizou a sociedade para investir em melhorias que chegam aos dias atuais. “Nosso objetivo é fazer do Hospital do Câncer em Uberlândia uma instituição que recebe o paciente para realizar os exames preventivos, passando por todas as frentes do tratamento, até os cuidados nos momentos finais de sua vida”.
Em plena atividade como cancerologista, como gosta de ser chamado, e professor universitário, ele continua formando e encantando futuros médicos do nosso país. Um constante estudioso do câncer e coordenador do NUPPPEC - Núcleo de Prevenção, Projetos e Pesquisa em Câncer, do Hospital do Câncer em Uberlândia, Rogério acredita que investir na pesquisa é fundamental para o progresso na oncologia.
Dr. Rogério Araújo, de fato, não consegue buscar uma explicação pela paixão que desenvolveu pela medicina ainda garoto, mas quando entramos em contato com sua história, arriscamos a dizer coisas parecidas com missão de vida ou destino. Se aquele garoto, que atiçava sua curiosidade com animais na chácara de seu pai e que se arriscou na cidade grande para correr atrás do sonho, conhecesse o homem que ajudou a revolucionar a realidade oncológica do Triângulo Mineiro e região, ele teria a sensação de dever cumprido.

Dr. Rogério, ao fundo, junto com os demais profissionais e voluntários que atuavam na casinha, no bairro Umuarama, em Uberlândia.