
Quando o cuidado e a solidariedade atingem gerações, temos a certeza de que as sementes plantadas resultaram em belos frutos. É assim que podemos definir a história de Aline e Luiz com o Grupo Luta Pela Vida e Hospital do Câncer em Uberlândia.
Essa jornada começa antes mesmo da existência do Hospital. Há 30 anos, Aline Serato foi diagnosticada com um câncer raro no ovário. Na época, era uma menina de apenas 12 que precisou enfrentar momentos desafiadores ao lado da família. “Eu descobri porque tive algumas dores na barriga, então meus pais me levaram ao meu pediatra. No início acharam que eram fezes e resolveram fazer uma lavagem. Porém, no momento do procedimento, o médico viu que tinha um tumor de ovário encapsulado. Fizeram a biópsia, o tumor desencapsulou e viram que era inoperável”, conta.
A chegada na “casinha”
Foi então que o Dr. Rogério Araújo, oncologista e um dos fundadores do GLPV, deu sequência no tratamento de Aline e a encaminhou para a antiga “casinha”, espaço onde os pacientes do setor de oncologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia faziam o tratamento. Daí em diante, além de vivenciarem as dificuldades de um tratamento complicado e com pouca estrutura, Aline e os pais presenciaram os primeiros passos da criação do Grupo.
Luiz Gonzaga, pai de Aline, recorda que a chamada “casinha” era de fato uma casa adaptada para funcionar como um espaço hospitalar. Nesse sentido, tudo era muito precário e infelizmente não conseguia atender todos pacientes de forma adequada. “Primeiro a gente tem um choque ao descobrir que a filha, uma criança, está com câncer grave. Além disso, não havia protocolo para o que ela tinha, o dr. Rogério precisou buscar fora do país para começarmos com a quimioterapia na casinha. Lá tivemos a oportunidade de conhecer o embrião do Grupo Luta Pela Vida. Não tinha a estrutura que o Hospital tem hoje, o suporte, as medicações que foram utilizadas eram importadas, e o tratamento agressivo”. Aline também lembra que o ambiente do tratamento era muito desgastante, ainda mais para uma criança. “A gente sentia o cheiro dos remédios sendo preparados, então só de ver o remédio eu já passava mal”, afirma.
O início de uma corrente solidária
Mesmo diante de todas as dificuldades, Aline superou a doença. Teve o suporte e os cuidados que eram possíveis naquela época, além de contar com princípio da solidariedade que já começava a ser germinada ali. Luiz e Aline destacam que os familiares dos pacientes ajudavam reciprocamente, além de médicos e enfermeiras. Compartilhavam lanches, se revezavam nos acompanhamentos e nas palavras de apoio. “Um grupo pequeno que vivenciou os desafios do local se juntou e começou a pedir doações para construir o Hospital que temos hoje. A Universidade doou o terreno, a Prefeitura fechou uma rua e aí começou a obra. Me lembro desse esforço de toda a comunidade”, aponta Luiz.
O tempo passou e Aline pôde viver uma vida normal, mantendo apenas os exames de rotina. Entretanto, anos depois, a família precisou enfrentar novamente os desafios de um tratamento oncológico, agora de Luiz, que em 2019 descobriu um linfoma e em 2021, um câncer de pele. A diferença é que ao invés de um lugar precário, o aposentado se deparou com um Hospital completo e que já oferecia um atendimento humanizado e de qualidade aos pacientes. “Na hora que você toma um baque desses, parece que fica meio anestesiado. Mas aí eu falei: não, vamos para a guerra. Vamos lutar! Aí eu comecei a quimioterapia e vi toda uma estrutura diferente. Eu senti como se estivesse em outro mundo, bem diferente da casinha. Foi um avanço muito grande, tanto no tratamento quanto na estrutura”, explica.
Pai e filha fizeram parte da trajetória do Grupo Luta Pela Vida e do Hospital do Câncer. Ambos já foram pacientes e acompanhantes em lugares diferentes, mas com o mesmo propósito: buscar uma assistência médica adequada. “Sem o Grupo Luta Pela Vida haveria tratamento de câncer, mas provavelmente não teríamos essa estrutura porque é um tratamento muito caro. Se não houvesse a mobilização da sociedade, não isso aqui não seria possível. É através do Grupo e com o apoio da sociedade que o paciente tem uma qualidade de vida é fundamental”, pontua Luiz.
Histórias como a de Aline e Luiz reafirmam a importância de todo o apoio dado pela população e pelos parceiros na luta pela vida. Agradecemos aos dois por compartilharem as vivências conosco!